Blog Núcleo Semente

O Blog do Núcleo Semente tem por objetivo ampliar o espaço de divulgação e discussão de temas relacionados ao mundo do Trabalho, da Saúde Mental e dos Direitos Humanos. Está aberto à colaboração de todxs os membros do Núcleo e de pesquisadores e pessoas de outras áreas que tenham interesse nessas temáticas. Equipe responsável: GT Comunicação e Difusão: Ana Yara e M Laurinda R Sousa.

9 de julho: Histórias não contadas

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    No Dia 9 de julho, em comemoração ao Dia da Luta Operária, realizou-se, no Sindicato dos Padeiros, a entrega do troféu José Martinez. O texto que se segue conta um pouco dessa história. 

Maria Maeno recebendo o troféu José Martinez

Maria Maeno, Edith Seligmann Silva, Carlos Aparício Clemente

M. Laurinda R. Sousa

 

Para onde foram os pedreiros
quando a muralha da China ficou pronta?
Brecht
Para onde foram os mortos e desaparecidos
da Greve Geral de 1917? Estão numa vala comum?

     Foi um dia chuvoso o 9 de julho deste ano. Feriado em São Paulo. Data instituída por Mario Covas, em 1997, como marco de celebração “do dia da Revolução Constitucionalista” de 1932, uma história conhecida e partilhada.

    Esse ano, o de 1932, se iniciou com uma manifestação de revolta contra o governo centralizador de Getúlio Vargas que, em 1930, fechara o Congresso Nacional e anulara a constituição de 1891. Em protesto, cerca de 100.000 pessoas ocuparam a Praça da Sé, no dia do aniversário da cidade.

    Em 23 de maio, quatro estudantes de Direito que lutavam pelas forças constitucionalistas, Martins, Miraglia, Dráusio e Camargo, foram baleados e mortos pelos que defendiam o governo central. Desencadeou-se, assim, o acirramento de uma revolta armada, que tomou o acrônimo MMDC como símbolo dessa luta.  Com forças desiguais, sem o apoio prometido de outros Estados, com muitas mortes, os constitucionalistas se renderam, em outubro de 1932.

    Apesar da derrota, algumas reivindicações foram atendidas e levaram à formação de uma Assembleia Constituinte que elaborou a nova Constituição de 1934.

    Essa é, em linhas muito gerais e superficiais, uma história contada.

    Mas, há uma outra história que também se celebra nesse dia, 9 de julho, e da qual não se ouve falar; uma história não contada.

    Trata-se do Dia da Luta Operária, dia instituído em homenagem ao sapateiro anarquista sindicalista, emigrante espanhol, José Ineguez Martinez, baleado pela Força Pública no dia 9 de julho de 1917, no Brás, quando participava de uma greve por melhores condições de trabalho e de vida.

    Seu funeral mobilizou toda a cidade; os operários e operárias se juntaram num cortejo de protesto e solidariedade, que foi do Brás até o Araçá. As fábricas foram sendo fechadas à medida que o funeral passava, e a greve se espalhou por São Paulo,  constituindo-se na Primeira Greve Geral da Classe Operária; símbolo do surgimento da consciência de classe e da capacidade de organização dessa população.  

    A cidade parou completamente naquela semana de julho: fábricas, comércio, energia elétrica, bondes, abalando o forte poder oligárquico da época e tornando visíveis as condições precárias de vida e moradia que atingia a classe operária.

    As condições para a revolta foram sendo acirradas pela decisão dos fazendeiros e industriais  em atender prioritariamente os países em guerra (Primeira Guerra Mundial, 1914-18) para os quais eram enviados alimentos e tecidos para os uniformes dos soldados, o aumento da carestia e da fome, a repressão violenta a qualquer manifestação de protesto pela insatisfação crescente entre os trabalhadores – homens, mulheres e crianças -  que tinham que cumprir uma carga de até 14 horas diárias nas fábricas, inclusive aos sábados, para atender a demanda crescente de exportação. Tudo isso sem um aumento de salário que permitisse a mínima sobrevivência.

    Interessante ressaltar que esse movimento foi iniciado por mulheres que trabalhavam no Cotonifício Crespi, no bairro da Mooca. Foram elas as primeiras a parar a tecelagem, criando o exemplo e pressão para que outras fábricas parassem. Outro exemplo, viera de um lugar distante: a greve iniciada no mesmo ano e que marcara a queda do regime czarista, na Russia:  mulheres operárias, também com fome, pararam de trabalhar, em Petersburgo, reivindicando pão para comer.

    A Polícia paulista reagiu ao movimento com violência. Dos inúmeros confrontos, muitas mortes e registro de desaparecidos. Aos familiares que procuravam informações não eram dadas respostas convincentes. Outros nem eram procurados; suspeita-se que sendo grande parte constituída por emigrantes não havia familiares que soubessem de seu desaparecimento. Mas, para além disso, temos de considerar o “pouco valor” dado a essa mão de obra “ainda escravizada”, facilmente invisibilizada; há relatos de carros de bombeiros levando corpos que foram enterrados em valas comuns na “calada da noite”. Uma história, como tantas outras que se repetiram, e ainda estão à espera de investigação, justiça e reparação.

    O final da greve foi vitorioso: diminuição da jornada de trabalho, aumento salarial, anistia política aos grevistas, controle de preços, proibição do trabalho infantil. Reivindicações aprovadas numa assembleia com mais de 10.000 participantes e com o canto da Internacional. “...Bem unidos façamos/ Nesta luta final/ Uma terra sem amos/ A Internacional...”.

    Segundo José Luiz Del Roio, militante político que estudou e escreveu sobre esse período, a grande aprendizagem foi “o reconhecimento de que as conquistas dos trabalhadores não podem ser consideradas definitivas; há sempre um poder elitista, de mentalidade escravocrata, querendo destruí-las. É preciso conhecer a história e o valor dos coletivos. É preciso que a luta continue”.

    No centenário dessa greve, em 9 de julho de 2017, foi instituído o Dia da Luta Operária, pela lei municipal 16.634, de autoria do vereador Antonio Donato, em homenagem a José Martinez e a todos os trabalhadores.  Dois anos depois, foi criado pelo artista plástico Enio Squeff e o fundidor Luciano Mendes, o troféu José Martinez, entregue, cada ano, a pessoas que se destacam na defesa das questões trabalhistas.

    Toda essa história, pouco conhecida, foi contada e relembrada no ato deste 9 de julho de 2024, dia que começou frio e chuvoso, mas que se aqueceu no encontro solidário e festivo realizado no Sindicato dos Padeiros.

    Deixei para o final, o motivo que me impulsionou a estar lá. Partilhar da alegria, na companhia amiga de Edith Seligmann Silva, de assistir à entrega do troféu a duas pessoas importantes nessa causa. Maria Maeno, médica especializada em Saúde Coletiva e Saúde do Trabalhador, pesquisadora da Fundacentro e membro do Núcleo Semente. Ativa pesquisadora e defensora dos direitos trabalhistas. E Carlos Aparício Clemente, ex-dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, diretor do Espaço Cidadania, reconhecido defensor dos temas ligados à saúde e segurança do trabalhador e da inclusão social.

    Também neste encontro a banda tocou e acompanhou o canto coletivo da Internacional.

  Na saída, ainda havia chuva, mas este 9 de julho ganhou, para mim, outro sentido; um forte reconhecimento do poder das lutas solidárias.

 

Referências sugeridas:

De Maria Maeno:  várias lives e entrevistas no YouTube. Mais recentemente a importante entrevista ao Tutameia (8.7.2024).

O filme de Carlos Pronzato: 1917: A Greve Geral (no YouTube)

O livro de José Luiz Del Roio: A Greve de 1917. Os trabalhadores entram em cena. Alameda Editorial, 2017. Dele, há, também várias entrevistas no YouTube   

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Cenas de Racismo tão constantes no nosso cotidiano e na forma de serem apresentadas pela Mídia, são um mote deste escrito feito por M. Laurinda R. Sousa

O RACISMO EM FOCO. CONVITES À DISSOCIAÇÃO

 6.7.2024, despreocupada, ligo a televisão e vou zapeando. Paro no noticiário da Globo News. As cenas me convocam: policiais atacam morador de rua.

Os vídeos, registrados nos celulares dos moradores do local, são claros; não deixam dúvidas. Um homem negro é atacado por cerca de 5 policiais. Reage à prisão, recebe chutes, porradas de cassetete, pontapés... É algemado e feito saco de lixo é jogado no carro que o levará. Levará “para onde”? Chegará a algum destino?

Admiro a coragem desse homem que resiste à violência e não se deixa paralisar pela força bruta.

Uma moradora do local é entrevistada e faz a denúncia-apelo: “estão levando nossas barracas e os pertences da feira que existe neste local. Com o frio que está fazendo, morando na rua, ficamos sem nenhuma proteção”.

A despreocupação já se foi. Assisto inquieta às cenas de violência.  Tão recorrentes.

A repórter encerra essa reportagem anunciando formalmente: os policiais serão investigados e os fatos apurados. E acrescenta: as autoridades municipais informaram que os policiais filmados não participaram do ataque a esse morador de rua. Como assim? E as cenas filmadas? Estão me convidando à recusa do que vi?

Logo em seguida, com um sorriso de quem dará boas notícias, a jornalista faz a comunicação do resgate e adoção de cachorrinhos apreendidos numa casa onde ficavam em condições de maus-tratos. Depois de receberem cuidados, serem vacinados e castrados, os pequenos animais estão à espera de adoção.

As fotos são claras; não deixam dúvidas. Os pets são tratados com carinho e os que ainda não foram adotados, estão agasalhados e protegidos em local seguro.

A repórter anuncia com ênfase: o dono do local, responsável pelos maus-tratos, continua preso.

Um sorriso parece tranquilizar o ouvinte: a justiça foi feita.

Com espanto me pergunto: como pode a primeira notícia ter um comentário tão anódino? E se passar rapidamente para uma outra que parece querer ter o poder de evitar o constrangimento, a vergonha, o horror de se ver a realidade crua das ruas. Impedir o pensamento e a crítica de como a cidade de São Paulo está cuidado de uma parte significativa de seus moradores.

Até quando os responsáveis por violências semelhantes não serão punidos? A política higienista não será condenada?

Ontem, uma outra notícia ganhou destaque: 4 adolescentes foram abordados pela polícia num bairro de luxo do Rio de Janeiro. 3 deles são negros e filhos de embaixadores. Aqui o final foi outro: considerando-se a origem desses meninos, o Itamaraty viu-se no dever de se desculpar e anunciar medidas imediatas de punição aos policiais envolvidos nessa abordagem. Isso, no entanto, não apaga o ato violento contra os meninos cuja “única infração” é a cor da pele.

Também neste início de mês, Graça Machel, ativista política militante da luta contra o Racismo e as injustiças sociais desde sua juventude, quando pegou em armas para lutar pela independência de Moçambique, viúva de Nelson Mandela com quem partilhou de lutas comuns, esteve no Brasil e falou de sua história: “Ninguém vai determinar o que sou e nunca vou calar quando há uma injustiça. O Brasil é um país reconhecido por sua hospitalidade, sua alegria, mas esse é só um plano. Em outro, é um país que precisa ter consciência da violência de seu racismo. Eu não sou a cor da minha pele. Eu sou humana, como todas as pessoas”.

Já na década de 80 do século passado, Hélio Pellegrino ao denunciar o rompimento do pacto social, garantia dos direitos fundamentais a todos seres humanos,  que estaria na origem da violência, afirmou: “É preciso mudar o modelo econômico e social brasileiro, por uma questão de higiene mental, moral e política. Por uma questão de vergonha!”

Continuamos sendo um país que não tem vergonha de mostrar sua cara: pretos, pobres e periféricos podem ser eliminados anodinamente.


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    Em 2003, no dia 28 de abril, realizou-se, no Brasil, o primeiro ato oficial para chamar a atenção para o significado dessa data, reconhecida internacionalmente como Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho. Neste ano, 2024, o ato, nomeado Ato e Canto pela Vida, foi realizado na Praça Vladimir Herzog com a participação da Fundacentro, do Núcleo Semente e de vários movimentos sindicais. O relato que se segue foi escrito por Cristiane Oliveira Reimberg, que faz parte da equipe da Fundacentro e também do Núcleo Semente.

Ato e Canto pela Vida. 28 de Abril de 2024. Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho.


   Na escadaria da Praça, frases grafadas nos degraus clamam por liberdade e nos lembram que a autonomia é essencial para a realização da atividade de trabalho. O nome do local escolhido para o evento também traz o símbolo da luta e da justiça ao homenagear o jornalista Vladimir Herzog, assassinado durante a ditadura militar, por cumprir seu dever profissional de informar os cidadãos. No dia 28 de abril, esse espaço foi ocupado pelo povo para o Ato e Canto pela Vida, que celebrou em São Paulo/SP o Dia Internacional em Memória dos Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho.

    Trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias profissionais, de instituição públicas e privadas, de movimentos sociais, estiveram lá para denunciar os números de acidentes e doenças ocupacionais. Estima-se que, a cada 15 segundos, uma pessoa morre no mundo por esse tipo de acidente. No Brasil, a cada 50 segundos, um acidente de trabalho é notificado. Quem passou por lá recebeu o Manifesto do Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho - Ato e Canto pela Vida - Basta de sofrimento e morte!, assinado por mais de 40 instituições, entre elas, a Fundacentro.

    O documento denuncia: “Na última década, entre 2012 e 2022, cerca de 7 milhões de acidentes do trabalho foram notificados no país, gerando mais de 2 milhões de afastamentos e causando cerca de 27 mil mortes de pessoas que saíram das suas casas”.  Ainda há todo um universo de acidentes e doenças relacionados ao trabalho não registrados, devido à subnotificação e à informalidade.

    “Esses números referem-se ao mercado formal de trabalho, não incluindo os acidentes dos trabalhadores e das trabalhadoras sem registro em carteira, geralmente submetidos às condições de trabalho mais insalubres e perigosas e cujas mortes são ainda mais invisibilizadas”, explica o Manifesto.

    “A realização desse ato, em praça pública, em diálogo com a população mais ampla e com a organização conjunta de mais de 40 entidades, foi muito importante. Os acidentes de trabalho seguem ocorrendo diariamente, matando, lesionando, comprometendo milhões de vidas em todo o país, e nossa missão é não permitir nunca que esse tema deixe de ter a centralidade que precisa ter”, afirma o presidente da Fundacentro, Pedro Tourinho.

    O evento também foi espaço para cantar em defesa ao direito à vida, regado pelos sambas entoados por Paulinho Timor e Inimigos do Batente. Os músicos separaram um repertório que retrata a vida de trabalhadores e trabalhadoras, como em Identidade, de Ederaldo Gentil: “05342635 é o meu número o meu nome / Minha identidade / Mínimo salário é o meu ordenado / 12 horas de trabalho / Que felicidade, que felicidade”.

    Depois da cantoria, veio a homenagem aos mortos pelo trabalho, com a cerimônia da vela, conduzida por Nilton Freitas, representante regional América Latina e Caribe da ICM (lnternacional dos Trabalhadores da Construção e Madeira). “Em todo mundo, atos como esses estão sendo realizados por trabalhadores e trabalhadoras. A origem do 28 de abril vem de um acidente em uma mina nos Estados Unidos, em 1969, com 78 mortos. Depois nos anos 1990, o movimento sindical internacional, liderado pela Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres, começou mobilizar as centrais sindicais de todo mundo para marcar esse dia, principalmente nas reuniões da ONU [Organização das Nações Unidas], porque estava sendo construída a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O objetivo número 8 é o trabalho decente. Isso foi crescendo de 1997 a 2002, em todo o mundo. Em 2003, foi realizada a primeira cerimônia oficial [no Brasil], na Fundacentro”, recorda Nilton Freitas, que na época presidia a instituição.

    O ato buscava ter essa característica de luto e luta, o que se mantem até hoje. “A data é importante para recuperar a democracia no local de trabalho”, acredita o diretor de Conhecimento e Tecnologia da Fundacentro, Remígio Todeschini. “Só melhoraremos as condições de trabalho na medida em que fortalecermos as comissões de trabalhadores e a participação ativa na Cipa [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio]”, completa.
    Todeschini ainda defendeu a integração das políticas e o fortalecimento das instituições públicas. “A Fundacentro precisa ser reconstruída com concurso e com mais verbas para pesquisa, os Cerests [Centros de Referência em Saúde do Trabalhador] precisam ser ampliados com mais verbas no âmbito da Saúde. É preciso haver uma integração de ações entre Saúde, Previdência e Trabalho”, aponta o diretor.

    .A união foi marca do ato e esteve presente na fala da coordenadora do Fórum Nacional das Centrais Sindicais em Saúde e Segurança da Trabalhadora e Trabalhador, Cleonice Caetano: “Temos aqui a música, mas também dizemos que a cada 15 segundos no mundo morre uma pessoa de acidente do trabalho e no Brasil a cada 3 horas e meia. Queremos com essa união conscientizar toda uma sociedade, a classe trabalhadora para que se defenda do ambiente insalubre do trabalho, e a classe patronal, que tenha essa consciência de que se tiver um ambiente saudável terá mais produtividade e pessoas mais felizes trabalhando”.

    Que o mundo do trabalho possa ter o espírito do Ato e Canto pela Vida. Na Praça Vladimir Herzog, onde todos eram iguais, o almoço, Baião de Dois, foi dividido, servido no sistema “Quem pode, paga, quem não pode, pega”. Lá tradicionalmente ocorre uma vez por mês o encontro  gastronômico-cultural “Todo mundo tem que falar, cantar e comer!”. A arte esteve presente, além da música, na construção coletiva da Árvore da Vida, em que todos puderam colocar a marca de suas mãos, aquelas que fazem a máquina do trabalho girar. Como diz o Manifesto, “Basta de sofrimento e morte! Viva a vida!”.

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Maria Vitoria Benevides, socióloga, Professora Emérita da Faculdade de Educação da USP, relatou para Antonio Cândido, um fato acontecido na década de 80: Havia sido aprovada, em Milão, uma lei que assegurava aos operários um certo número de horas livres que eles poderiam ocupar para aperfeiçoamento cultural da forma que quisessem. A expectativa era de que escolheriam algum curso que permitisse o aperfeiçoamento de sua função no trabalho.  Para surpresa geral, o mais escolhido foi o desejo de aprender melhor sua língua e conhecer a literatura italiana.

Nesta semana publicamos o texto de Eva Wongtshowski que, na mesma linha da experiência relada por Maria Vitória Benevides, nos convoca, poeticamente, a um olhar para além do mundo do trabalho alienante; um mundo onde caibam outras formas de viver.


SOBRE O TRABALHO E A ARTE


Vou lhes contar uma história do livro de Eduardo Galeano, O livro dos Abraços, onde ele relata fatos verídicos que foi recolhendo nas suas viagens. Em seguida, vou tecer algumas considerações sobre o mundo do trabalho.

. A história:

Sixto Martínez fez o serviço militar num quartel de Sevilha. No meio do pátio desse quartel havia um banquinho. Junto ao banquinho, um soldado montava guarda. Ninguém sabia por que se montava guarda para o banquinho. A guarda era feita porque sim, noite e dia, todas as noites, todos os dias, e de geração em geração os oficiais transmitiam a ordem e os soldados obedeciam.  Nunca se questionou, nunca alguém perguntou sobre o fato. Assim era feito, e sempre tinha sido feito.

E continuou sendo feito até que alguém, não sei qual general ou coronel, quis conhecer a ordem original. Foi preciso revirar os arquivos a fundo. E depois de muito cavoucar, soube-se. Fazia trinta e um anos, dois meses e quatro dias, que um oficial tinha ordenado montar guarda junto ao banquinho, que fora recém-pintado, evtando que algum incauto sentasse na tinta fresca. (Burocracia/3).

 . Algumas considerações:

      Posso entender o Sr Sixto Martinez. Soldado raso está lá cumprindo o serviço militar obrigatório, e logo logo vai embora. Não cabe a ele a ousadia e o risco de perguntar por que afinal essa história de montar guarda a um banquinho. Sabe-se lá, a hierarquia militar não é brincadeira.

      Mas um general ou coronel, patentes alta e de carreira, supostamente teria mais liberdade de fazer perguntas sobre ordens e determinações dos seus antecessores.

Por que uma ordem ou determinação adquire tamanha força a ponto de não ser questionada por tantos anos? O fato de não se saber mais quem deu a ordem faz alguma diferença?

      A força de trabalho e a inteligência do soldado foram solenemente desrespeitadas.  Se perguntado sobre o que faz no quartel o que será que ele responderia?

      Essa história de algum modo conheceu bem: olhamos, mas não vemos. Percebemos visualmente, mas não ligamos essa percepção com a rede de nossas lembranças e conhecimento. A percepção visual fica perdida, sem sentido associado.  Diante de um fato estranho, não usual, ou mesmo dramático ou doloroso testemunhamos sua existência mas sem nos afetarmos pelo que foi visto. Um testemunho burocrático e empobrecido.

      O ponto central na história do Galeano é a questão do sentido do trabalho. Proteger as pessoas de sentarem num banco recém-pintado é nobre (embora um aviso por escrito fosse suficiente). O quartel propõe a Sixto que não pense, não use sua imaginação para cumprir sua tarefa, que não tome nenhuma iniciativa (querer saber qual a função do banco, por que está no meio do pátio, por que ele é tão valorizado a ponto de exigir um soldado montando guarda). É um convite à alienação. E a alienação não só empobrece, mas, faz sofrer. Sixto fica ao lado do banco, mas não participa com sua inteligência, seu interesse pelo mundo, pelas pessoas, pelos desdobramentos do que faz. Trabalha maquinalmente.

Albert Camus, escritor argelino, diz que a vida sem trabalho não vale, mas quando o trabalho não envolve a alma, a vida não se desenvolve e morre. Quanto mais complexo o circuito sujeito (pessoa), trabalho e significado, maior o prazer que cada um tem com o que faz; o rompimento desse circuito ocasiona sofrimento.  

            Sigmar Malvezzi, em palestra realizada no SESC Pompéia contou uma passagem do livro de Elizabeth Gaskell, escritora inglesa do século 19, que descreve o começo da industrialização: uma família de nove pessoas trabalha em teares para produzir novelos de linha. Ganham 13 shillings por mês. Destes 13, 7 devem ser pagos pelo aluguel do tear, cujo dono é o patrão. portanto sobram seis. Os seis devem pagar o leite, a aveia e as batatas com um pouco de sal, para o mês todo. No inverno um dos integrantes da família deixa o trabalho para recolher gravetos na vizinhança e mante-los minimamente aquecidos.  E a autora faz uma observação surpreeendente (estamos em torno de 1850): essa família não tem tempo para apreciar o por do sol, a beleza da paisagem.

            De fato, isso é uma questão, tanto é que Antonio Candido num texto de 1988 (130 anos depois – aquele onde reproduz o relato de M. Vitoria Benevides), “O Direito à Literatura”, que estenderíamos aqui como o direito à arte, afirma: “a arte alimenta, sem cultura se perde a alma que dá vida ao trabalho. A arte nos ensina a pensar, a imaginar, a conversar, a propor soluções. Põem-nos em contato com nossas emoções, transmite experiências, organiza nossa visão de mundo. Ajuda-nos a superar o caos e o vazio”.

            No início de nossa Era, Santo Agostinho faz um testemunho semelhante ao descrever a primeira vez em que escutou uma missa com canto (400 dc): “quanto não corei fortemente comovido ao escutar os cantos e hinos ressoando maviosamente na vossa igreja. Essas vozes insinuavam-me nos ouvidos, orvalhando-me de verdade, meu coração ardia em afetos piedosos e corriam-me dos olhos as lágrimas, mas sentia- me consolado”. 

            Não importa se é um hino religioso, uma musica sertaneja falando de saudades, ou uma sinfonia de Beethoven. O importante é a emoção que a beleza e a provocação da arte nos proporcionam. Sem ela, “se perde a alma que dá vida ao trabalho”.

            Não é este um bom argumento para entender e justificar os movimentos recentes pela diminuição do tempo de trabalho? Pela semana de quatro dias?

Eva Wongtshowski é psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.


A educação superior privada na caixa de Skinner: é possível construir saúde nas IES privadas? – Parte II ¹

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Este texto é continuação do publicado anteriormente, em 20/12/2023. Neles, Dimitri Moita nos convida para a reflexão necessária sobre a precarização da Educação e do Trabalho, no ensino superior privado no Brasil. Estará o trabalho pedagógico submetido a experiências semelhantes às realizadas por Skinner com seus objetos de estudo (ratos em geral) para demonstrar suas hipóteses sobre o condicionamento do comportamento.


Dímitre Moita[2]

 Continuando, é necessário explicar por que a IES privada faz o contrário do que é necessário à formação de suas estudantes. Como aponta a análise institucional de Alfredo Moffatt em a Psicoterapia do Oprimido, que demonstra que o manicômio faz ao paciente justamente o contrário do que ele necessita, ou seja, ao invés de enriquecer seu mundo interno e prover mais recursos para lidar consigo e com os outros, impõe-lhe isolamento social e monotonia extrema; a IES privada provoca algo semelhante às estudantes. Diante de suas necessidades era necessário mais mundo, mais recursos.

Como muitos de nós formados em universidades públicas, deveriam poder: participar de grupos de estudo, de pesquisa, de debates, engajar em atividades de organização política estudantil, projetos de extensão, participar e organizar congressos, cursar disciplinas livres ou em outros cursos, produzir e/ou fruir arte, praticar esportes e jogos, organizar festas, realizar mobilidade acadêmica, contar com apoio pedagógico e psicossocial, enfim, atividades que fazem de uma IES uma universidade digna do nome que leva universo em seu início. As estudantes deveriam poder escolher! Terem opções concretas e eleger a ênfase que gostariam de dar à sua formação, decidir que profissional vão ser.

As respostas a essa estrutura, ao sofrimento ético-político provocado por ser obrigado a conduzir essa ingestão paradoxal, são as mais inadaptadas. O fatalismo viceja entre os docentes. Tive uma conversa com um colega da enfermagem que afirmou ter se tornado um pragmático, “as coisas são assim e busco me adaptar”. Também grassa o cinismo, “é só isso que dá pra fazer aqui e qualquer coisa já tá bom”, e a despersonalização do outro: é comum ouvir colegas na sala dos professores falarem das estudantes como incapazes, maledicentes, mal-intencionadas, sem ímpeto, fraudadoras e perseguidoras.

Também são ineficientes as respostas das estudantes: exigem a demissão de professoras antes de pensar formas de mediação, atribuem a profissionais técnicas a responsabilidade por falhas da IES, desrespeitam colegas e professores... Várias vezes escutei de estudantes “só quero pegar meu diploma e sair desse lugar” (uma vez ao invés de lugar, inferno). Tão diferente da sensação que tive ao me formar na instituição pública em que estudei, só pensava em alguma forma de voltar àquela universidade. Na IES privada, os memes e as figurinhas de whatsapp “a universidade não me dá um segundo de paz” e “a universidade destruiu minha vida” fazem sucesso nas redes sociais e são usados com frequência porque sintetizam o sentimento mais comum das estudantes em relação à faculdade.

Se alguém que lê se questiona “mas não foi sempre assim?”. Até onde vai meu conhecimento, não. Uma década atrás as professoras, mesmo horistas, recebiam o dobro da remuneração percebida hoje. Tinham tempo dedicado a outras atividades que não a sala de aula. “Ah, então era um paraíso!”, não. Apenas quero indicar que o processo é de precarização: desabrida, galopante e explícita. É angustiante iniciar cada semestre com a questão “o que vão nos tirar agora?”. Porque enquanto escrevo não consigo pensar como liofilizar ainda mais essa educação (e se conseguisse não compartilharia para não dar ideia), mas a meia dúzia de semestres que trabalhei na IES privada já me ensinaram bem: sempre é possível tirar mais um pouco, enxugar mais um tanto, desidratar mais o ensino.

Sei que o ímpeto revolucionário não dispõe de muitos adeptos entre nós. Sei também que o desejo de conciliação de classe tem se disfarçado de realismo político onde o discurso da mudança social se multiplica, mas o que venho refletindo (e torço que este relato colabore para ampliar nossa compreensão) é que as IES privadas, geridas pelos grandes grupos de capital aberto, não estão sequer sob a civilidade frágil do capitalismo regulado. É o capitalismo gore ou o neoliberalismo pornográfico (como escutei de um colega sociólogo) que impera ali. E como costuma ser sob o capital, a finalidade social da organização, educar, é subsumida, está baleada na beira da estrada, sem quem lhe socorra; mas os lucros (que podem ser conhecidos ao acessar a comissão de valores mobiliários, para os grupos de capital aberto) crescem com um fôlego de maratonista, de triatleta, trimestre após trimestre.

Em minha formação como psicólogo, ao final da disciplina de análise do comportamento, os ratos com que passamos o semestre, da caixa de Skinner iam para o viveiro das cobras. Quando não eram mortos e descartados por não serem mais úteis para qualquer outro experimento. Nem em qualquer analogia, merecemos, estudantes e professoras, destinos semelhantes.



[1] Este texto é continuação do anteriormente publicado neste blog. Esta divisão ocorreu pelos critérios de publicação – tamanho dos textos até 5.000 caracteres.

[2] Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Universidade do Ceará. Aperfeiçoamento em Saúde Mental Relacionada ao Trabalho pelo Instituto Sedes Sapientiae. Professor de Psicologia.

 

A educação superior privada na caixa de Skinner: é possível construir saúde nas IES privadas? – Parte I¹

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Dímitre Moita²

 

A experiência recente como docente de uma instituição de ensino superior (IES) privada incitou a reflexão acerca de condições institucionais e de trabalho que considero relevante compartilhar. A história que vou contar é bastante difundida, sobretudo entre quem discute e luta nos campos da educação e do trabalho: a história da crescente precarização da educação e do trabalho no ensino superior privado no Brasil. A reflexão que segue é, além de um exercício de autoavaliação, um convite ao diálogo sobre o que mudou e o que precisa ser mudado nesse setor.

Há uma massa de pesquisa e conhecimento sobre a financeirização do setor, sobre a tendência de mercadorização da educação e sobre a injustiça do financiamento público indireto através do endividamento das pessoas mais pobres que acessam o ensino superior por meio do FIES. Tudo isso é de extrema relevância e deve ser compreendido como o âmbito macrossocial de determinação da vivência nas IES privadas. Minha reflexão está circunscrita a um patamar microssocial, das experiências do cotidiano.

Sou professor de Psicologia do Trabalho em uma IES privada. Costumo discutir com as estudantes, no tópico Saúde Mental e Trabalho, o estudo de caso Aprisionado pelos ponteiros de um relógio, de Maria Elizabeth Antunes Lima, Ada Ávila Assunção e João Manuel Saveia Daniel Francisco. O estudo aborda o processo de adoecimento de Carlos, porteiro de um edifício-garagem em Belo Horizonte que desenvolve um transtorno mental relacionado à organização excessivamente rígida do trabalho, às ferramentas de vigilância, como o relógio que precisava acionar a cada 25 minutos, ao turno fixo noturno, ao conteúdo empobrecido das tarefas, ao isolamento e ao alto grau de monotonia a que foi submetido pela estrutura da atividade.

Na discussão em sala, um estudante, após percorrermos toda a descrição do caso, afirmou indignado, “ele ficou como um rato numa caixa de Skinner!” (dispositivo de laboratório utilizado para observar através do treinamento o comportamento de animais. O sujeito experimental desses estudos costuma ser o rato). A analogia foi rica e permitiu uma ótima reflexão entre as colegas: “ele foi reduzido à dimensão não verbal, privado de se expressar simbolicamente, teve sua subjetividade reduzida à operação de uma máquina”. Enquanto mediava aquele debate, me dei conta de que a analogia se aplicava não somente ao Carlos, mas também a nós, estudantes e professoras daquela IES privada.

Se para o Carlos, aprisionado pelos ponteiros de um relógio, a caixa de Skinner era uma cabine de 1,2m por 0,8m, a nossa é a sala de aula. Com um pouco mais de variabilidade: nossa vida é do elevador para a sala de aula, dela para o elevador. E o ciclo reinicia amanhã. E depois. Porque, contratadas como horistas, as professoras precisam de muitas disciplinas para compor a renda mensal (30 horas semanais dentro da sala de aula podem ser vistas como um alívio, já que cargas semanais de 37, 39 ou 40 horas semanais são comuns), e atividades de pesquisa e extensão não são remuneradas na maior parte dessas instituições. Os papéis dentro da sala de aula são muito bem definidos e rígidos. Professoras devem conduzir todo o processo: escolher atividades, definir avaliações, controlar presença e passar o conteúdo. Estudantes devem passivamente acompanhar tudo: responder, obedecer, silenciar e esperar. Em turmas maiores, todo o ritual pode se assemelhar bastante a um comício ou uma dessas palestras de esquema de pirâmide a que somos levados a contragosto.

Percebemos que somos muito mais assemelhados ao porteiro do edifício-garagem do que observamos à primeira leitura. E assim como Carlos, estamos adoecendo. De trabalho e educação! De ter de operar uma educação bancária, tecnicista e paradoxalmente contrária às necessidades de estudantes-trabalhadoras (na maior parte dos casos trabalhadoras-estudantes, porque a primeira condição toma quase todo o tempo de vida), formadas em ensino fundamental e médio carregados de precariedades. Aquilo que é necessário, a IES privada oferece o contrário.



1 Este texto foi dividido em duas partes, devido aos critérios para publicação no Blog. (até 5000 caracteres)

2 Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Universidade do Ceará. Aperfeiçoamento em Saúde Mental Relacionada ao Trabalho pelo Instituto Sedes Sapientiae. Professor de Psicologia.

Os caminhos para superar o desafio da desigualdade racial

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Neste mês de novembro em que se celebra a consciência negra e os movimentos de resistência à desigualdade racial, Ivair nos apresenta mais um texto esclarecedor sobre essa questão.


Por Ivair Augusto Alves dos Santos

Mario Theodoro com seu livro “A Sociedade Desigual: Racismo e Branquitude na Formação do Brasil” e agora Michael França e Allysson Portela que acabam de anunciar o lançamento do livro "Números da Discriminação Racial", nos levam a repensar políticas de promoção da igualdade racial.

Ao tabular e analisar longas séries históricas de dados sobre a evolução das disparidades raciais no país percebe-se que, em muitas dimensões, não avançamos quase nada e, em determinados casos, estamos regredindo. No mercado de trabalho, por exemplo, desde 2010, negros ganham, em média, cerca de 50% menos que brancos.

Os dados sobre desigualdades raciais persistem. Apesar dos últimos esforços e as mais variadas formas de discriminação e estigmas enfrentados pelos negros, o racismo representa poderoso freio em seus desenvolvimentos individuais.

Historicamente, um quarto do crescimento anual da economia brasileira vai para 1% da população. Portanto, nossas políticas são voltadas para o 1%. Metade do crescimento vai para 5% da população. Toda nossa discussão é sobre um crescimento que está sendo apropriado pelos 5% mais ricos.

Um exemplo dessa disparidade está nas empresas de maior destaque na economia brasileira.

Em cerimônia de premiação, em 2023, das 150 melhores empresas para trabalhar promovida por “Época Negócios” e "Valor Econômico" temos a exata noção de como as desigualdades irão persistir nos próximos anos. Nestas empresas só 11,2 % dos funcionários se declararam pretos ou pardos, 6,5% homens e 4,7% mulheres.

Os programas de investimentos em diversidade são modestos, tímidos, com pouquíssimo investimentos e muito distantes de uma sociedade em que negros estejam de fato representados. Na sua maioria, essas empresas se resumem a oferecer treinamento contra o racismo para os gestores em geral.

As organizações são ambientes cuja tradição é de maioria branca e heterossexual. Abrir espaço para negros é um desafio que exige sensibilidade, persistência e mudança de atitude política. Há um olhar de tratar as políticas de diversidade como uma forma de assistência social, que não há nada de errado nisso, se pudesse ser realizado em escalas condizentes com as necessidades da população negra.

Um exemplo positivo ocorreu nesta semana: a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos (PCdoB) deu uma entrevista para o Jornal Estado de S. Paulo em que disse que pretende ampliar a presença de negros nas carreiras cientificas e tecnológicas . Ela planeja em escala nacional uma versão do programa Embarque Digital. Este programa, exitoso em Recife, deu bolsas de graduação na área de tecnologia da informação (TI) a ex alunos da rede pública.

Segundo a ministra “há um déficit gigante no Brasil ( de profissionais nesse setor). Calcula-se que 100 mil vagas.”

Pensar o Brasil exige dimensionar as desigualdades raciais e o tamanho do desafio, pois ainda não temos uma proposta de crescimento econômico que contemple as desigualdades raciais.

Olhar só o crescimento total da economia é ser negligente em relação à desigualdade. No geral, o debate sobre o crescimento no Brasil é sobre o crescimento total, não se discute se é um crescimento pró-pobre ou pró-rico. Deve-se olhar o crescimento pela distribuição, mudar a perspectiva. Como resolver essa desigualdade histórica? Não existe uma solução mágica.

Segundo o sociólogo Marcelo Medeiros, do Ipea, em seu livro : Os ricos e os Pobres, "para enfrentar os conflitos distributivos, não devemos subestimar as forças contrárias. Pessoas vão perder e vão disputar para não perder. Não vão ser coisas isoladas, não vai ser só educação, não vai ser só tributação. Vai envolver coisas em grande escala".